Por: Pr. Armando Castoldi
Eu tinha então 20 anos de idade e estávamos no longínquo ano de 1976. Eu era um dos líderes do Grupo de Jovens UPAJE – União Paz e Amizade entre os Jovens Encantadenses. De fato as amizades feitas naquele contexto permanecem até hoje. Normalmente nos reuníamos no Salão Paroquial aos sábados à tarde e íamos noite a dentro. Nossos assuntos eram sérios, normalmente ligados às profundas transformações sociais que aqueles tempos estavam gerando. Éramos idealistas. Eu particularmente acalentava o sonho de que o nosso engajamento na sociedade poderia deter muitas forças malignas que começavam a vicejar naquela época.
Surgiu então nas Igrejas em Porto Alegre uma peça teatral intitulada “CRISTO É A SOLUÇÃO”. Conseguimos, não lembro através de quem, o texto. Como não a tínhamos assistido, demos a ela o nosso toque pessoal, ensaiamos pesado e lá, no Salão Paroquial, fizemos uma apresentação com pompa e circunstância. A peça resumia-se na encenação breve de diferentes realidades como fome, prostituição, drogas, violência, conflitos familiares. Depois de cada cena, o narrador perguntava: Qual é a solução? Então dois jovens, uma moça e um rapaz, entravam correndo com uma grande faixa, dando a volta olímpica na cancha de esportes exibindo a seguinte frase: “CRISTO É A SOLUÇÃO”. Eu fiz a sonoplastia com dois toca-discos de vinil lado a lado e, num malabarismo incrível ia colocando uma música, tirando outra, baixando o volume aqui, levantando ali. Era o tempo dos grandes filmes, das grandes orquestras, das grandes bandas internacionais e mesmo não conhecendo a trilha original, acho, “modéstia à parte”, que nós fizemos muito melhor. O impacto foi fantástico. Poucos não choraram. Foi um sucesso total. O resultado? Bem, eu sei do resultado que causou em mim e é isso que quero compartilhar agora.
Na época eu já trabalhava no Forum. Lá eu tinha conhecido o Ênio Sipp, Oficial de Justiça. Ele havia há pouco tempo se convertido a Cristo. Uso a expressão “convertido a Cristo” por que muitos se convertem a uma religião, mas ele de fato havia se convertido a Cristo. E nós conversávamos muito, mesmo tendo opiniões diferentes. Tínhamos uma relação muito aberta e por isso tive a liberdade de convidá-lo para assistir a peça e ele compareceu, com toda sua família. Como em meio a tanta gente e tantas saudações não consegui conversar com ele naquela mesma noite, no dia seguinte fui até sua casa, pois estava ansioso por ouvir sua opinião. Foi engraçado, pois pergunta e resposta já estavam na ponta da língua: “-E daí Ênio, o que tu achou?” -Perfeito! Agora é só colocar em prática.
Em outras circunstâncias essa resposta poderia não dizer muita coisa, mas ele já sabia o que se passava no meu coração e creio que Deus o usou exatamente naquele momento de “glória pessoal” para me fazer cair na realidade. Há um bom tempo ele me confrontava com a necessidade de uma conversão radical, pois sabia que no fundo eu vivia uma grande contradição: Queria mudar o mundo, mas resistia em mudar a mim mesmo. De fato, foi exatamente esse impacto que sua resposta produziu em mim.
Esse foi apenas um dos tantos solavancos que Deus precisou provocar no meu interior para que eu pudesse compreender finalmente que muito além de acalentar nobres ideais ou fazer grandes movimentos, seguir a Cristo é entregar-lhe incondicionalmente a nossa vida para que Ele faça dela o que melhor lhe aprouver.
Prezado leitor: Passaram-se ainda alguns anos daquele episódio até que finalmente consegui me render. Hoje, olhando para trás e vendo como Deus tem cuidado de cada mínimo detalhe da minha vida, me pergunto: Por que foi tão difícil? Por que relutei tanto? Simplesmente por que em nossa miopia espiritual, parece-nos infinitamente mais seguro apresentar a Deus um sofisticado projeto de vida do que simplesmente dizer-lhe: “Eis aqui estou, ó Deus, para fazer a tua vontade” – Hebreus 10.9.
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!