Por: Pr. Armando Castoldi
Como tenho compartilhado em meus últimos dois artigos “Transformar a sociedade” e “A honra, na confusão das palavras”, ando desgostado com a alarmante perda de sentido das palavras. Coincidentemente comecei a ler, do renomado autor americano Philip Yancey, o livro “Maravilhosa Graça”, um dos maiores clássicos da literatura cristã contemporânea. Confesso que sinto-me um tanto envergonhado de só fazê-lo agora, mas como tudo tem seu tempo, foi muito interessante perceber que o autor confessa a mesma decepção.
Quero compartilhar algumas das suas colocações: “Como escritor, jogo com as palavras o dia inteiro, brinco com elas, ouço-lhes os meio-tons, divido-as ao meio e tento empregá-las em meus pensamentos. Descobri que elas têm a tendência de se estragar com o passar do tempo, como carne deteriorada. Quando os tradutores da versão da Bíblia King James contemplaram a forma mais elevada de amor, escolheram a palavra “caridade” para expressá-la. Contudo, nos dias de hoje, ouvimos essa palavra como protesto de desdém: “Não quero sua caridade!”.
Talvez eu continue retornando à palavra graça por ser um termo teológico expressivo que não se corrompeu. Eu a chamo de “a última palavra perfeita”, porque todos os usos que consigo encontrar para ela retêm um pouco da sua glória original. Como um vasto lençol d’água, ela sustenta a orgulhosa civilização americana, lembrando-nos de que as coisas boas não vêm de nossos próprios esforços, e sim pela graça de Deus. Mesmo agora, apesar da nossa guinada secular, as raízes principais ainda se estendem para a graça. Veja como utilizamos a palavra: Muitas pessoas “dão graças” antes das refeições, reconhecendo diariamente o pão como uma dádiva de Deus. Somos gratos pela bondade de alguém, sentimo-nos gratificados com boas notícias, congratulados quando temos sucesso, graciosos hospedando amigos. Quando uma pessoa nos serve bem, deixamos uma gratificação. Em cada um desses usos, ouço a exclamação infantil de prazer dos que não merecem.
Um compositor pode inserir uma nota graciosa e melódica na partitura. Emboranão sejam essenciais à melodia – são gratuitas -, elas acrescentam um brilho cuja ausência seria sentida. Quando experimento tocar pela primeira vez uma sonata de Beethoven ou Shubert no piano, toco-a toda, algumas vezes, sem esses artifícios. A sonata flui, mas que diferença faz quando sou capaz de acrescentar as notas graciosas que temperam a partitura como saborosas especiarias!
(...) Os muitos usos da palavra convencem-me de que a graça é realmente surpreendente: trata-se de nossa última palavra perfeita. Ela contém a essência do evangelho como uma gota de água pode conter a imagem do sol. O mundo tem sede de graça em situações que nem reconhece; não nos causa admiração que o hino “Preciosa graça de Jesus” (Amazing Grace) continue sendo tão repetido mais de duzentos anos depois de sua composição. Para uma sociedade que parece um barco à deriva, sem amarras, não sei de lugar melhor para lançar a âncora da fé.
Prezado leitor: A ler essas colocações, não pude deixar de considerar que, muito provavelmente, na Sua infinita misericórdia, Deus nos tenha dado uma palavra que não se corrompe; uma palavra que até os mais simples lhe captam o sentido. Graça é um favor imerecido. Assim, num mundo que somente valoriza poder, talento e esforço, a graça é esse oásis onde todo o coração sedento pode ser plenamente saciado. Como é bom ser aceito sem merecer! Talvez por isso, graça seja a única palavra segura para traduzir o que Jesus fez por mim e por você: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos” – Efésios 2. 4-5.
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!