DIMINUIR A SI MESMO PARA CRESCER EM DEUS
Nos raros momentos de nossas vidas corridas nos quais conseguimos parar e evitar as distrações online, não ficamos muito tempo sem achar alguma beleza que nos atraia, algo interessante que nos puxe em sua direção. Pode ser uma paisagem, cujo horizonte arrasta nossa vista e nossa imaginação para longe, pode ser uma pequena flor na beira da calçada, cuja delicadeza solitária nos faz admirar, pode ser, também, uma bela ave cantando no galho adiante. O que acontece nesse momento chamamos de contemplação, porque, na medida em que ocupamos nossos sentidos, nossa mente e nossas emoções com algo exterior a nós mesmos, tiramos por um instante o foco de nossos próprios eus, de nossos problemas e de nossas paixões. Quando contemplamos, nos entregamos ao objeto de nossa admiração, já que ele nos convida a participar de sua realidade. Não é sem razão que a etimologia de “contemplar” lança raízes no termo latino “templum”, que era o local de adoração à divindade.
O homem antigo, sobretudo o judeu e o cristão, procurava assumir a Criação, sempre que possível, como objeto de contemplação, porque via através de cada um de seus elementos um aspecto da glória de Deus. Esse homem mantinha conservados espaços e tempos sagrados, que não poderia ocupar com seus caprichos pessoais e nos quais deveria, tão somente, louvar ao Criador e usufruir de Sua obra. Mas o homem moderno, tendo extirpado de sua vida o espaço e o tempo dedicados exclusivamente ao Senhor, acabou ocupando cada centímetro quadrado de sua existência com trabalho e com a satisfação de seus apetites. Por isso ele quase já não consegue mais colocar o pé no freio, parar um pouco e se entregar ao que é digno de ser contemplado e apreciado, e quando acha que se entregou, mais provável que esteja apenas buscando extrair dele máximo lucro e prazer, transformando-o em mercadoria.
Se o hábito da contemplação estava ligado à vida espiritual e ao culto à divindade, sua perda afeta a relação com Deus. Cheio de si, o homem já não tem lugar para Cristo, por isso quer fazê-Lo pequeno para que Ele supra só um ou outro de seus apetites, como se fosse mais um bem de consumo. Assim, ao invés de procurar subir à presença de Deus e entrar na Sua glória, quer que o Senhor desça até ele para ocupar apenas o lugar que ele permitir. Esse homem não consegue mais se entregar de todo ao Criador e procura submetê-Lo às suas próprias regras e vontades. Por isso vai se tornando cada vez mais parecido com o Diabo, conduzido apenas por sua própria lei e só podendo odiar a Criação. Mas Deus não se deixa enganar. Ele conhece aqueles que o amam e os recompensa com toda a sorte de dádivas espirituais, frutos de um coração puro, que sabe quando esquecer de si mesmo. Que vida plena de paz e beleza tem aquele que vai humildemente à intimidade desse Deus de Amor, porque “a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.” (João 4:23)
(Natanael Pedro Castoldi)