Dias atrás, eu estava fazendo um retrospecto da minha vida. A imagem que me veio à mente, foi a de um cumpridor de tarefas; alguém que recebendo de manhã uma lista de incumbências, no decorrer do dia, depois de cumprir cada uma delas, poderá dizer: está feito! Eu relaciono essa imagem ao tempo em que exerci a função de Oficial de Justiça, especialmente nas comarcas com extensa área geográfica, como Montenegro, Santa Cruz do Sul e Lajeado. Quando ia para o interior, minha maior alegria era retornar ao final do dia com todos os meus mandados cumpridos. Eu sentia um profundo senso de realização!
Uso essa imagem, porque um Oficial de Justiça pode organizar o seu roteiro de trabalho, mas não é ele quem determina as diligências que irá cumprir. Eu poderia flexibilizar as formas como iria cumprir os mandados, porém jamais mudar o conteúdo. No linguajar forense, o Oficial de Justiça é a “longa manus” do juiz. Ora, para mim, esse exercício diário foi sempre um meio para exercitar a submissão, pois muitas das coisas que eu precisava fazer, não teriam sido as minhas escolhas. Isso num primeiro momento pode parecer frustrante, porém na prática, há um senso de realização muito maior quando podemos ter a certeza de que fizemos exatamente aquilo que deveríamos ter feito.
Assim, o meu trabalho diário me ajudava também a crescer espiritualmente, pois no meu andar com Deus, preciso constantemente exercitar a minha submissão. Como servo de Deus, não posso fazer simplesmente o que me “dá na cabeça”, uma vez que tenho ordens a cumprir. Mas, quando as cumpro com zelo, carrego então a mesma honra de ser a “longa manus” do Juiz. Era exatamente assim que o apóstolo Paulo se via ao anunciar o Evangelho: “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus”. (2 Coríntios 5.20). Então, Já na iminência de ser martirizado, ele podia escrever com todas as letras: “Quando a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guarde a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”. (2 Timóteo 4.6-8).
Para muitos, talvez essa postura possa transparecer o reflexo de um espírito inferior, de uma baixa autoestima, de um senso de incapacidade para comandar a própria vida, de um comodismo ou insegurança diante do ônus de ter que tomar as próprias decisões. Contudo, se queremos ser autônomos, há uma questão crucial que precisaremos enfrentar: Como saber, lá no fim da vida, quando todas as tarefas tiverem sido cumpridas, se era realmente aquilo que deveríamos ter feito? Esse é o grande dilema que muitos daqueles que viveram ao largo da vontade de Deus, irão enfrentar.
Prezado leitor: Não existe segurança, nem glória maior do que ser um simples cumpridor de tarefas d’Aquele que tem a autoridade sobre todas as coisas. Ah, e quanto à coragem para tomar essa decisão? Pois é! Daí é preciso coragem. Então, coragem!
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!