Por: Pr. Armando Castoldi
A palavra dicotomia significa literalmente algo cortado em duas partes. É uma unidade que em algum ponto se desfaz, como uma bifurcação a partir da qual se criam dois caminhos diferentes. Na natureza, é um processo normal, como quando uma árvore em crescimento se divide em dois ramos. Porém, nesse caso a árvore não deixa de ser uma unidade. Na esfera humana, entretanto, a questão é mais complexa. Os filósofos gregos, viam o homem como um ser cortado, dividido entre corpo e espírito, ou entre corpo, alma e espírito. Disso, concluíam que o corpo era mau e o espírito bom. Essa visão não é incoerente, visto que temos essa dupla ou tripla percepção de nós mesmos e uma intensa luta interna no nível da nossa consciência e nossos desejos que revelam essa dicotomia ou tricotomia. Entretanto, à medida que o conhecimento da “alma” humana avança, cada vez mais se percebe que apesar dessas divisões em tese serem reais, na pratica, o ser humano precisa entender-se como uma unidade.
A primeira definição bíblica colocada a nosso respeito, fala de algo inteiro e não cortado: Deus criou o homem da terra e, soprando em suas narinas o Seu fôlego de vida, o homem tornou-se “nephesh” = alma vivente. A concepção judaica do homem é de um ser inteiro. Na criação não havia um conflito entre o físico e o espiritual. O homem era um todo e se via como tal: um todo em si mesmo e um todo com a harmonia que o cercava. Por isso, a nudez não era algo estranho antes da queda. Porém, a entrada do pecado separou o interior do ser humano e essa separação começou a provocar não somente o conflito entre seu corpo físico e seu ser moral, mas também uma série quase infinita de outras divisões que desintegram a nossa essência e nos tornam incapazes de compreender quem realmente somos e como lidar com nossos conflitos.
A realidade é que nos temos tornado especialistas em dividir. E toda divisão, por mínima que seja, produz sua dose inevitável de desarmonia e infelicidade. Enfim, admitindo ou não, o fato é que o pecado nos separou de Deus, nos separou da natureza, nos separou do nosso semelhante e, por fim, nos separou de nós mesmos. Sim, tudo em nós parece irreconciliável: As religiões, de tantas que são e dos tantos deuses que professam, parecem nos levar cada vez mais longe do Criador; não obstante aos tantos discursos sobre a defesa do meio ambiente, estamos conseguindo fazer da natureza a nossa maior ameaça; apesar da nossa gritante carência afetiva, estamos cada vez mais inaptos para manter saudáveis os nossos relacionamentos; apesar da busca desesperada por paz interior, estamos cada vez mais ansiosos e perturbados.
Embora este assunto seja extenso e complexo, quero colocar algo que entendo ser de fundamental importância: Deus não é bem e mal ao mesmo tempo, Deus não está dividido, Deus não está em desarmonia, Deus não segue ao mesmo tempo dois caminhos opostos. Por isso, quando intervém no ser humano, Deus age no sentido de restaurar tudo aquilo que um dia se perdeu em nós. É importante compreender que a salvação bíblica não é somente a fuga da condenação eterna, mas uma cura profunda de todo o nosso ser e em todas as dimensões. Essa cura começa aqui e culminará no dia quando o nosso próprio corpo físico se revestirá de glória. Se nos colocamos nas Suas mãos, Deus, como um hábil cirurgião, irá restaurar, uma a uma, todas as conexões que um dia foram interrompidas pela divisão que o pecado causou em nosso ser.
Prezado leitor: Quando olhamos para a pessoa e obra de Jesus, salta aos olhos o fato de que não há nEle qualquer contradição. Mas, Ele viveu na plenitude aquilo que parece ser tão difícil para nós, exatamente para que agora saibamos como obter cura e reencontrar a nossa verdadeira identidade: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” – 2 Coríntios 3.18.
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!