É praticamente inevitável que em algum grau, todos nós vivemos em função de corresponder às expectativas que outros nutrem a nosso respeito. Porém, mais importante que isso é ter a consciência clara de quem  realmente somos. Uma das lições que tenho aprendido é que antes de qualquer posição que eu ocupe, algo que eu realize ou título que ostente, há uma pessoa de cuja identidade não posso jamais fugir. Essa pessoa precisará continuar ali enquanto eu viver. Essa pessoa é o próprio Armando que existe por trás de tudo quanto eu venha conquistar ou realizar. Portanto, eu preciso cuidar para nunca cometer a loucura, em hipótese alguma, de tentar substituir quem sou por mera simulação. Nesse sentido o apóstolo Paulo diz: “Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes pense com moderação, segundo a medida de fé que Deus repartiu a cada um” – Romanos 12.3.

Ao assumirmos alguma responsabilidade, é normal que acabamos criando expectativas nas pessoas que nos cercam. Espera-se que o administrador administre, que o médico cure, que o professor ensine. Porém, na maioria dos casos, o exercício da profissão não está condicionado à vida privada. Cumprida a prestação do respectivo serviço, cada profissional é livre para fazer aquilo que bem entender.  Dificilmente alguém deixará de procurar um bom médico porque ele cometeu adultério.  No entanto, quando abraçamos o chamado da pregação do Evangelho não temos como evitar que, ao contrário das profissões seculares, além de sermos avaliados pelo trabalho que realizamos, somos numa medida ainda  maior julgados por aquilo que somos em nossa vida privada. Isso é justo? Sim! E é por isso que o apóstolo Tiago adverte: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo” – Tiago 3.1.

Ora, ser um líder espiritual, não é tão simples como alguns imaginam, pois, se na ânsia de corresponder às expectativas dos outros, eu começo separar o que faço daquilo que sou, fatalmente entro num perigoso processo de despersonalização e autodestruição.  Por isso, preciso vigiar constantemente para que o pastor não destrua o Armando e que o Armando não acabe com o pastor. É incrível, mas esses conflitos podem adentrar em áreas que sequer iríamos imaginar.

Estou abrindo meu coração, pelo seguinte: É que já aos cinqüenta e cinco anos, ando com alguns problemas de saúde que preciso resolver. Ora, o Armando vai normalmente ao médico, porém ao pastor, parece mais coerente apenas orar. Algumas pessoas enxergam o Armando e concordam com ele, outras porém, enxergam o pastor, esperando sinceramente que ele venha agir como tal. E daí pastor Armando, o que fazer?   Foi nesse dilema de encontrar a sabedoria para resolver essa questão, que dei com os olhos nas palavras de Jó: “Mas onde se acha a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento? O homem não conhece o valor dela, nem se acha ela na terra dos viventes. O abismo diz: Ela não está em mim; e o mar diz: Não está comigo. (...)De onde vem, pois, a sabedoria, e onde está o lugar do entendimento? (...) Deus lhe entende o caminho, e Ele é quem sabe o seu lugar. Porque Ele perscruta até as extremidades da terra, vê tudo o que há debaixo dos céus. Quando regulou o peso do vento e fixou a medida das águas; quando determinou leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões, então, viu Ele a sabedoria e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou. E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento” – Jó 28.12-28.   

Ao acabar de ler essas palavras, senti uma paz muito grande e agradeci de coração a Deus, sabendo que me colocar inteiro em Sua presença, independentemente das circunstâncias, é a minha sabedoria e a minha segurança.