PADRÕES E ESSÊNCIAS
No trajeto que normalmente faço minhas caminhadas diárias, passo por uma Igreja que se reúne numa sala comercial. À certa distância, já podia ouvir uma voz masculina, em volume elevado, o que me levou a imaginar um lugar repleto de pessoas. Mas ao passar em frente, vi um jovem com um microfone em punho, se movimentando de um lado para outro atrás do púlpito, orando fervorosamente, com um auditório de apenas três pessoas: Um casal e uma menina. Aquela cena me chamou a atenção e, em meu senso crítico, não pude deixar de pensar que eu faria diferente. Numa situação assim, eu teria simplesmente me assentado em círculo com aquela família e feito uma oração bem mais informal, mais breve e evidentemente, dispensando o microfone.
Mas exatamente pela singularidade do cenário, diminui meu passo e comecei prestar atenção nas palavras daquele jovem e então, numa atitude quase reflexa, comecei a dizer amém e amém às suas palavras, pois sua oração estava sendo dirigida em favor de missionários que trabalhavam em terras distantes e dos cristãos perseguidos ao redor do mundo. Pedi perdão a Deus por haver julgado mais a forma que o conteúdo; me alegrei com aquele jovem que demonstrava tanto entusiasmo pela obra de Deus, e segui o meu caminho. Normalmente não vou muito além daquele ponto e, passados uns dez minutos, ao retornar, outra vez me surpreendi, pois o dito jovem continuava firme em sua oração. O casal permanecia com suas cabeças inclinadas e a menina, aparentemente dormia na cadeira, recostada à parede. Não pude deixar de pensar novamente no exagero do moço, mas prestando novamente atenção, percebi que ele agora orava pelas famílias, clamando que casais não divorciassem, que jovens não fossem aprisionados pelas drogas e pela imoralidade, e assim, mais uma vez reduzi meu passo e fui balbuciando, amém e amém!
Claro que não pude deixar de lembrar das palavras de Jesus: “E quando, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa” - Mateus 6.5. Mas seria esse o caso? Sinceramente creio que não! E mais: Será que aos olhos de Deus, eu faria melhor? Bem, certamente a forma como eu conduziria aquele momento seria mais discreta, e digamos até mais bíblica. Mas contando com apenas três pessoas no meu auditório, eu teria ânimo para fazer uma oração tão longa, com tanto entusiasmo, e envolvendo tantos aspectos tão importantes do Reino de Deus? Sinceramente não! E assim, fiz o restante da minha caminhada até em casa, um tanto envergonhado e profundamente agradecido a Deus por aquele jovem.
Sim, lá estava um jovem, provavelmente ainda aspirante ao ministério pastoral, cheio de entusiasmo e provavelmente também cheio do Espírito Santo, que sem se afetar com tamanho ou talvez até mesmo com o interesse do seu reduzido público; que sem se importar com a reação de quem passasse pela rua, elevava sua voz intrepidamente, num clamor por tão reais necessidades. Se o seu coração era sincero, aquela oração subiria aos céus, e poderia abençoar muitas vidas, e causar grandes estragos nos intentos de satanás. E muito mais do que isso, aquela performance seria também um eficaz treinamento para quem, no seu coração, talvez carregue o sonho de um dia alcançar multidões. Se assim for, que assim seja!
Prezado leitor: O reino de Deus preserva essências, mas normalmente quebra padrões. Uma verdade essencial a respeito de Jesus Cristo é que Ele nunca pecou, e no entanto, à vista dos religiosos da época Ele quebrou quase todas as regras vigentes. Estou compartilhando isso, porque esse episódio me refrescou a memória a respeito de algumas verdades que facilmente esquecemos: “Irmãos, reparei, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” – 1 Coríntios 1.26-29.
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!