O DIA QUE JESUS FICOU BRABO
Por: Pr. Armando Castoldi
26/12/2014
Minha mãe, a Dona Lúcia, é uma pessoa muito inteligente, perspicaz, prática e dotada de um senso de humor muito aguçado. Mesmo já às portas dos 84 anos, continua devorando livros, especialmente a Bíblia e, de vez em quando ela tem algumas “sacadas” inéditas. Um dia fui visitá-la e ela acabara de ler o capítulo 11 do Evangelho de Marcos. Com ar irônico e tentando conter o riso, disse: “Eu estava lendo na Bíblia sobre o dia que Jesus ficou brabo”. Perguntei: Como assim? Sim, disse ela, teve um dia que Jesus já saiu de casa brabo! Curioso, deixei ela falar e, concluí que mesmo que estivesse apenas brincando com sua própria percepção, ela poderia, na sua praticidade, ter captado exatamente aquilo que o texto bíblico quer transmitir: “No dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. E, vendo de longe uma figueira com folhas foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos. Então, lhe disse Jesus: Nunca jamais coma alguém fruto de ti! E seus discípulos ouviram isto. E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo; também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores” – Marcos 11.12-17.
Esse episódio me veio à mente, por que nos últimos dias tenho me perguntado sobre o que Jesus estaria pensando a respeito do modo como temos comemorado nossos “Natais”. Herdamos uma imagem totalmente desfigurada de Jesus, como se ele fosse destituído de qualquer outro sentimento que não a tolerância e por isso, às vezes nem passa na nossa cabeça que, como a Dona Lúcia pode ter entendido muito bem, chega o dia quando Jesus fica brabo, e muito brabo mesmo!
As imagens que a tradição religiosa nos legou como ícones, passam a ideia de um Jesus totalmente passivo: Ou ele está envolto em faixas na manjedoura, ou no colo de Maria, ou pregado na cruz. Especialmente no Natal, Jesus é apenas uma criança indefesa, um sem teto – “o pobrezinho que nasceu em Belém; um “bebezinho fofo” que todos gostariam de pegar no colo, mas que poucos o aceitariam adulto, ressuscitado, Senhor dos Senhores, comandando as suas vidas.
Sim, Jesus um dia pode ter estado muito brabo e deve hoje estar muito brabo. Eu posso imaginar que em muitas casas, se Ele entrasse na hora da ceia do Natal, ao olhar para aquele pinheirinho repleto de luzinhas coloridas iria igualmente amaldiçoá-lo e dizer: Que distorção é essa que vocês fizeram das minhas palavras? Ainda não enterram que vocês é que precisam ter a minha luz em vocês mesmos? E quem é esse boneco ali no Presépio? Então vocês acham que é simples assim? Vocês acreditam que podem me aprisionar eternamente na infância, me deixar encaixotado, esquecido o ano inteiro, me deixar a margem de tudo o que vocês fazem e pensar que neste dia eu vou aceitar vossas homenagens? E o que vocês fizeram aí fora com a data do meu aniversário? Vocês esqueceram do dia que eu amaldiçoei uma figueira e depois entrei no Templo e coloquei tudo abaixo? Vocês não compreenderam por que eu fiz tudo isso? O que esperam de mim? Que eu diga: Puxa, muito obrigado! Que bom que vocês lembraram do meu aniversário? Quem afinal vocês pensam que Eu Sou?
Prezado leitor: É claro que eu estou apenas conjecturando, porém do jeito que o Natal tem sido comemorado, convenhamos, o que muda? Muda nada, a não ser que você tenha compreendido, ou venha compreender, que Jesus veio para nascer no teu coração; para fazer de ti um templo santo no qual Ele possa habitar e uma boa figueira, onde encontre fruto. Nesse caso, valeria dizer: FELIZ NATAL!
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!