Quando analisamos os textos bíblicos é importante, quando possível, procurar compreender o verdadeiro sentido das palavras. A palavra misericórdia é formada de duas raízes gregas: “eleeinós” = miserável e “kardia” = coração. Quando referida tanto nos ensinos de Jesus como dos apóstolos a misericórdia não significa apenas ter dó ou pena de alguém, mas é uma compaixão ativa que nos leva a sentir no coração as necessidades dos outros e fazer algo para supri-las. Assim, o caminho da misericórdia passa obrigatoriamente pelo ver, pelo sentir e pelo agir.
A religiosidade sempre oferece o risco de servir como atalho para despistar o caminho da misericórdia. Enchemos nossa agenda de rituais e atividades “piedosas” e julgamos com isso ter cumprido plenamente nossa responsabilidade para com Deus.
E, como as necessidades dos outros batem à nossa porta sem aviso prévio, é muito fácil encontrar algum motivo para justificar nossa omissão.
Jesus acusa esse perigo com a seguinte parábola: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou ao largo. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou ao largo. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele” – Lucas 10.30-34. Moral da história: Aquilo que o sacerdote e o levita se omitiram de fazer, talvez pela pressa que tinham de chegar ao Templo para “adorar”, um estrangeiro o fez com total zelo e desprendimento.
O grande diferencial de Jesus em relação aos líderes religiosos da época é que Ele podia não possuir uma agenda rígida, mas seu coração estava sempre transbordante de misericórdia. Falo isso com a consciência que também corro o mesmo risco, pois é muito fácil se perder pelo caminho e cuidar mais dos métodos e das estruturas do que das pessoas, ou mesmo do próprio coração.
Contudo, a misericórdia não deve ser um privilégio daqueles que por força de sua opção teriam a obrigação de manifestá-la. É algo que deveríamos esperar de todas as pessoas, por simples coerência com o fato de termos escolhido viver
E, se no tempo em que as notícias do dia se restringiam àquilo que se passava ao alcance da vista, a misericórdia já era tão rara, o que dizer de nossa época? Sei que temos razões de sobra para nos esconder em nosso próprio mundo e ignorar aquilo que acontece fora da porta de nossa casa. Mas como é sentir-se só diante da adversidade? “Bem-aventurados os misericordiosos por que alcançarão misericórdia” – Mateus 5.7.
Prezado leitor: No seu mundo real, no mundo onde você coloca os seus pés, no mundo que sua vista pode alcançar, no mundo em que suas mãos podem tocar, ainda há espaço para a misericórdia? Se o amor de Deus, o Pai, se limitasse a um mero sentimento, o mundo jamais teria ouvido falar de Jesus.
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!