O desejo de um menino criado no interior, muito mais nos meus tempos de criança, era possuir ou fazer algo que o relacionasse ao mundo adulto. Quando completei doze anos, por exemplo, como presente de aniversário meu pai me deixou usar o revólver pela primeira vez. Não havia qualquer apologia à violência, nem significava que eu passaria a andar armado. Era apenas um ritual de passagem, compatível com a época.
Mas bem antes disso, talvez com sete ou oito anos, eu já carregava uma “arma poderosa”: um canivete com a lâmina curvada, chamado de “brítola”. Era uma das minhas identificações com o mundo adulto, pois a maioria dos homens andava com uma delas bolso, por ser uma ferramenta com múltiplas utilidades.
Um dia, ao tentar preparar um caniço para pescar, uma lasca de taquara acabou produzindo um corte muito profundo em meu dedo polegar direito, do qual até hoje carrego a cicatriz. Corri imediatamente para casa, mas então surgiu um dilema em minha mente: Como explicar a situação? Meu pai já havia me proibido de andar sozinho pelos matos na hora do descanso do meio-dia. Então inventei que tinha me cortado brincando com a brítola. Minha mãe ficou cismada, pois não via lógica na minha explicação: Como cortar o dedo polegar da mão direita com a brítola, ainda mais que eu era destro? Então, pelo sim e pelo não ela me tomou a “dita cuja” e a escondeu.
Agora eu estava num dilema muito maior, porque a perda havia sido muito grande, mas tinha vergonha e medo de confessar que havia mentido. Por muito tempo depois, procurei a brítola em todos os lugares possíveis e imagináveis, mas nunca mais a encontrei. Há algum tempo atrás, lembrei do episódio e finalmente então contei a verdade à minha mãe. Perguntei onde afinal ela a havia escondido minha preciosa arma, mas ela já não lembrava o que havia feito dela.
Estou contando essa história, para demonstrar o quanto, naqueles bons tempos, a mentira era algo grave. Meus pais eram absolutamente claros quanto a essa questão: Acontecesse o que acontecesse, a verdade era essencial. Aliás, jamais me passava pela cabeça que em algum aspecto, qualquer que fosse, meu pai ou minha mãe mentissem: Eles eram pessoas honradas e respeitadas, por que falavam a verdade! Pensando bem, não entendo como não fui suficientemente inteligente para me utilizar de um princípio que eles mesmos ensinavam: “Quem fala a verdade, não merece castigo!”. Provavelmente eu deduzira que isso não se aplicava a quem devesse confessar uma mentira. Mas por essas e por outras, desde cedo, entendi que a verdade é sempre, em todas as circunstâncias, o único caminho digno e seguro.
Mas como as coisas mudaram! Mentir, em nossos dias, tornou-se um expediente absolutamente legítimo, mesmo quem nem soe crível. Ninguém mais fica com medo, ninguém mais fica com vergonha, porque honrados e respeitados já não são aqueles que falam a verdade, e sim aqueles que conseguem ser atraentes e se dar bem. Mas pergunto: Como podemos ter emburrecido tanto? Será que não temos mais a capacidade mínima de compreender as consequências da mentira? Se recebemos um diagnóstico médico, não queremos a verdade? Se lemos uma bula de remédio, ou o rótulo de um alimento, ou um manual de instruções, não queremos a verdade? Se fazemos um contrato, não queremos que a outra parte o cumpra? E se já não é assim, que espécie de mundo é este que estamos vivendo?
Prezado leitor: O nível da presente campanha eleitoral tem dado provas do grau de decadência que atingimos. Então, talvez ainda em tempo, quero apenas apontar para uma lógica elementar: "Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira figos? Tampouco a fonte de água salgada pode dar água doce" - Tiago 3.11-12.
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!