Conta uma anedota muito conhecida em nossa região de colonização italiana, que um velho proprietário de uma vinícola, já à beira da morte, chamou seu primogênito para lhe transmitir um grande segredo do seu ofício: “Filho, saiba que com uva também se faz vinho”. Embora não passe de uma piada, sabemos que ela carrega seu fundo de verdade: Ponha-se a água, acrescente-se o açúcar, o aromatizante, o corante, o estabilizante, o conservante, mas cadê a uva? Eu, que fui criado vendo meu pai gastar preciosos dias do ano cuidando seu parreiral, aprendi muito cedo que somente com boa uva se pode produzir um bom vinho.
Estou usando esse exemplo porque tudo na vida pode passar por esse processo de deterioração, onde aquilo que deveria ser a essência passa a ocupar um lugar periférico e às vezes tão irrelevante, que sua presença ou sua ausência parece já não fazer diferença.
Em quantas áreas da nossa vida podemos aplicar essa verdade? Quantas coisas ou até mesmo pessoas que um dia representaram nossa própria razão de viver hoje não passam de um insignificante detalhe? O fato é que se descuidamos o nosso amor esfria, o nosso zelo arrefece, o nosso entusiasmo murcha, a nossa integridade se dilui, a nossa fidelidade se corrompe, a nossa consciência se afrouxa, nossos ideais se perdem e as verdades mais fundamentais são relativizadas.
Quando Jesus deixou a glória celestial e veio a este mundo, assumiu um lugar que somente Ele poderia ocupar e realizou uma obra que somente Ele poderia realizar. Por isso Jesus tornou-se o único salvador; por isso nada, nem ninguém mais pode ocupar o seu lugar. Em todo o Novo Testamento essa verdade transborda absolutamente cristalina. O apóstolo Pedro em seu discurso no dia de Pentecostes não poderia ter sido mais específico: “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” – Atos 4.11-12.
Aliás, a figura do vinho é uma ilustração muito apropriada, porque Jesus mesmo afirmou: “Eu sou a videira verdadeira, e meu pai é o agricultor” – João 15.1. E ao celebrar a última ceia, tomando um cálice com vinho, disse: “Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” – Mateus 26.28.
Ora, o cristianismo nasceu com sua identidade exclusivamente fundamentada na pessoa de Jesus Cristo. Foi como um vinho absolutamente puro, cuja fórmula nada possuía além da uva legítima da videira do Pai, nutrida pelo poder do Espírito Santo. Mas como tudo o mais que passa por nossas mãos, as fórmulas vão sendo alteradas e adulteradas e muitos já não conseguem conceber o seu cristianismo pessoal sem os tantos aditivos que acostumaram-se a ver misturados ou por si mesmos misturar ao vinho.
Prezado leitor: Hoje parece tão fácil ser cristão: Basta ter cor, aroma e sabor de vinho. Mas como saber se é verdadeiro ou falso? Para mim há um teste bem simples para fazer tal aferição: Se alguma coisa periférica; se algum aditivo extra, seja o que for: Nome, doutrina, sentimento ou tradição religiosa ocupar um lugar tão proeminente sem o qual a sua fé parece não se sustentar, esse algo mais não deveria estar ali, pois tomou o lugar da uva e adulterou o seu vinho. A História revela que essa degeneração é praticamente inevitável, porque no fundo, todos são tentados a colocar no vinho a sua própria marca. Porém o cristianismo é vinho puro e somente aqueles tem a coragem de lançar fora todos os acréscimos, poderão provar o seu verdadeiro sabor: “E ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é excelente” – Lucas 5.39.
JESUS, A OPÇAO DA VIDA!