No capítulo 16 do livro de Levítico, encontramos figuras de profundo sentido espiritual: O bode expiatório e o bode emissário. Você já ouviu falar deles? Pois bem: Isso tinha a ver com algo que acontecia na Festa anual das Expiações. Dois bodes eram apresentados perante o altar de Deus e sobre eles eram lançadas sortes. Um bode era sacrificado como oferta pelo pecado, o outro permanecia vivo. A final do ritual, que incluía a morte de um novilho e um cordeiro, o próprio santuário era purificado com sangue. Finalmente então, o sacerdote impunha as mãos sobre a cabeça do bode vivo e confessando sobre ele todas as transgressões do povo, o enviava por mão de um homem para as terras solitárias do deserto, onde era solto.
O povo judeu mantém até hoje essa festa, conhecida como “Yom Kipur”, o “Dia do Perdão”, que é celebrada anualmente entre setembro e outubro do nosso calendário. Ainda que modificada em seu ritual, ela permanece como um dos pilares da fé judaica, o que demonstra a importância do tema na relação do homem com Deus e nas nossas relações interpessoais. Um relacionamento sem perdão está fadado ao fracasso. Alguém já disse que “amar é jamais ter que pedir perdão”. É uma frase de efeito, romântica, mas não poderia ser mais mentirosa. Somente quem nunca pecou poderia tomar para si a prerrogativa de um amor assim, contudo essa pessoa já não vive fisicamente em nosso meio. A resposta de Jesus àquele bando de hipócritas que trouxe uma mulher adúltera para ser apedrejada, retine até hoje em nossos ouvidos: “Aquele que dentro vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra” -Marcos 8.7.
O pecado é tão real à alma humana quanto um câncer ao corpo físico. Pecado é sinônimo de morte, em todas as dimensões. Podemos negar com nossos lábios uma doença que carregamos no corpo, mas isso não mudará o diagnóstico. Podemos negar com muitas teorias interessantes os efeitos da poluição ambiental, contudo, meras palavras não irão purificar o planeta. A Bíblia é muito clara: “O salário do pecado é a morte” -Romanos 6.23. É por isso que, na continuação do mesmo texto, temos o antídoto: “mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus”.
No Novo Testamento, a palavra perdão vem do grego “afesis” =afesis, que significa: libertação, cancelamento de uma obrigação, punição ou culpa. Portanto o perdão, muito mais que um mero “desculpar”, é a liberação completa da ofensa ou do dano. O perdão é o único poder capaz reverter as consequências do pecado.
É nesse ponto que as figuras do bode expiatório e do bode emissário são tão importantes: um era usado para cobrir o pecado, o outro para levá-lo às terras do esquecimento. Que lindas ilustrações! Nessa dimensão, o perdão pode restaurar realidades que aos olhos humanos não teriam mais a mínima chance. Este é o perdão que precisamos praticar. Mas veja que as implicações não são pequenas: Se pedimos perdão ou se perdoamos, em qualquer dos casos, estaremos tomando o compromisso de abdicar completamente do pecado e até mesmo das suas lembranças. Assim é o perdão de Deus: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar” - Miquéias 7.18-19.
Prezado leitor: Num estágio de revelação ainda incompleto, essas figuras apontavam para a essência da obra redentora de Cristo: perdão e esquecimento! Deus sabe que somente purificados das nossas culpas e livres das sombras escuras do passado, podemos, de verdade, começar de novo: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” – 2 Coríntios 5.17.
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!