Diante de conflitos mais sérios, quando não encontramos uma forma legítima de sustentar nossos argumentos, quase sempre nos consolamos com essa mentira: “Ainda sou mais eu!”. Dificilmente temos a coragem de expressar isso, mas é o que normalmente sentimos. Talvez como um mecanismo de defesa de nossa autoestima, talvez um orgulho velado, o fato é que temos a tendência de achar que nossas experiências são mais verdadeiras, que nossa compreensão é mais exata, que nosso conhecimento é mais elevado, que nossa visão é mais apurada, que nossos pensamentos são mais profundos.
Essa flagrante admissão de superioridade é sem dúvida um dos maiores males que aflige o ser humano. Num primeiro momento, esse sentimento é compreensível porque de fato somos exclusivos. Ninguém pode sentir na pele as nossas experiências e por isso ninguém além de nós mesmos pode mensurá-las. Toda experiência é única para aquele que a vivencia, porém isso em si, a ninguém torna superior ou inferior. Absolutamente não! Eu não sou mais eu, nem sou menos eu: Sou apenas eu. Mas aqui está o “x” da questão: Como é difícil conviver com o “apenas eu”!
No mundo competitivo que vivemos, ou fazemos valer nossa superioridade ou então somos impiedosamente esmagados pelo sistema. Ser “apenas eu” carrega a mensagem intrínseca de que sou menos daquilo que deveria ser. Ora, não há como sobreviver a esse sistema sem violentar-se, sem desintegrar-se como ser, sem causar um terrível estrago à nossa identidade e aos nossos relacionamentos. Para piorar a situação, temos hoje uma avalanche de literatura de autoajuda que reforça exponencialmente esse engano. Onde irá parar um mundo onde todos, a todo custo, tentam provar sua superioridade?
Esse pensamento tem se tornado um câncer em todas as dimensões da vida humana, pois na ânsia de ser aquilo que não somos, acabamos destruindo a beleza do próprio ser. Deus não quer que sejamos um zero à esquerda, porque de fato não o somos, mas também não quer que nos exaltemos acima da medida. É interessante perceber que gestos de verdadeira humildade só podem ser praticados por aqueles que conhecem o seu lugar. Veja o exemplo de Jesus: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” - João 13.13-14.
A segurança que Jesus possuía sobre sua identidade, dava-lhe uma espontaneidade e uma autoridade absolutamente singulares. Repreender os discípulos ou lavar-lhes os pés; tocar nos leprosos ou expulsar os vendilhões do Templo; multiplicar pães e peixes ou se deixar ficar com fome, eram simplesmente expressões naturais de quem sabia quem era e sabia o que fazer em cada situação. Em nenhuma circunstância vemos n’Ele necessidade de se explicar ou se justificar. Mas nós, por que nos vemos sempre às voltas com a tentação de querer conquistar a qualquer custo o nosso lugar e provar a qualquer custo o nosso valor? Como vencer essa compulsão?
Prezado leitor: Precisamos compreender que mesmo sendo exclusivos, vivemos num mundo onde é dado a todos o mesmo privilégio. Todos são exclusivos! Assim, às vezes somos colocados em lugares de honra e outras vezes precisamos nos humilhar; às vezes precisamos exercer autoridade e outras tantas simplesmente obedecer. Quando conseguimos discernir nosso tempo, lugar e circunstância, temos a chance de nos sair bem. Mas se falhamos nessa percepção ou a rejeitamos, iremos sofrer muito e causar muito sofrimento àqueles que nos cercam. Tenho também aprendido que quanto maior a nossa identificação com Cristo, mais facilmente iremos discernir os nossos limites e mais alegria teremos em ser simplesmente aquilo que somos.
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!