Por: Pr. Armando Castoldi
No capítulo dezessete do Evangelho de Lucas, quando os discípulos ouviram a respeito da inevitabilidade do perdão, compreendendo a distância que se encontravam do padrão com o qual estavam sendo confrontados, exclamaram: “Aumenta-nos a fé”. Então Jesus, para confirmar que de fato eles estavam captando a mensagem, acrescenta: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá”.
Eu queria de ter sido uma mosca naquela hora, para ver a cara dos discípulos. Mas o pior ainda estava por vir, pois no contexto imediato Jesus faz uma das declarações mais intrigantes do seu ministério. Vou transcrevê-la em seu contexto imediato: “Respondeu-lhes o Senhor: Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-te à mesa? E que, antes, não lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois comerás tu e beberás? Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia ordenado? Assim também vós, depois de haverdes feito tudo quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”. (Lucas 17.1-10)
No nosso quotidiano, quem tem os olhos minimamente abertos e um pouco de coerência, perceberá o quanto ficamos longe de corresponder às nossas próprias expectativas. São tantas as necessidades ao nosso redor, são tantas as coisas por fazer, há tanta coisa fora do lugar, que por maior que seja o nosso esforço, quase sempre nos vemos às voltas com esse sentimento, que depois de ter feito tudo quanto estava ao nosso alcance, mal cumprimos nossa obrigação. Mas se não conseguimos corresponder às nossas próprias expectativas, como ficamos em relação às expectativas de Deus? Bem, foi esse o nível do diálogo que Jesus travou com seus discípulos.
Claro que Jesus também proferiu palavras profundamente alentadoras. Em circunstância anterior, usando ilustração semelhante, Ele traz aos discípulos o vislumbre de um cenário totalmente diferente: “Cingido esteja o vosso corpo e acesas, as vossas candeias. Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele das festas de casamento; para que, quando vier e bater na porta, logo lha abram. Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se os servirá”. (Lucas 12.35-37).
Por que Jesus agia assim? Será que Ele queria encher o coração dos discípulos de esperança para logo depois deixá-los confusos? Não! Jesus usa essa estratégia exatamente porque sabia que esta era a única forma de tratar a nossa natureza contraditória. Todos nós temos uma grande dificuldade de conhecer o próprio lugar e, uma dificuldade maior ainda de nos mantermos nele. Nosso orgulho é tão evidente; a nossa necessidade de afirmação é tão exposta, que praticamente só conseguimos enxergar os próprios feitos. Assim como a lua, só queremos que apareça o nosso lado que brilha. É assim que somos! Uma questão entretanto fica patente nessas duas ilustrações que Jesus usou: Servindo ou sendo servidos, a hierarquia não é modificada. Deus deseja nos abençoar? Sim, porém somente na condição de Senhor! Podemos de alguma forma agradá-Lo? Sim, mas somente na condição de servos! Ninguém poderá subverter essa ordem.
Prezado leitor: Deus é Deus e não uma força impessoal que podemos manipular através de rituais, poder mental ou palavras mágicas. Ele é o Senhor! E nós, somos servos inúteis? Sim e não. Contudo, servindo-O ou sendo servidos por Ele, uma coisa e outra são extraordinárias. Um privilégio indizível. Pura graça: Um favor imerecido!
JESUS, A OPÇÃO DA VIDA!