Eu cresci num tempo e num contexto onde trabalhar nunca foi uma escolha. Desde a mais tenra infância, sempre havia algo que devíamos fazer. Então, só tínhamos duas alternativas: trabalhar contentes ou murmurando. Quando não conseguíamos gostar de determinado trabalho, a saída era terminar rápido, para sobrar algum tempo para brincar. Só que o resultado disso era quase sempre desastroso, porque meu pai não tolerava serviço mal feito. Assim, ou aprendíamos a fazer as coisas direito ou então vivíamos às voltas com a vara.  Não posso negar que apanhei muito por causa disso. Hoje essa pedagogia pode parecer absurda, mas nós, que crescemos naquela época, sabemos o quanto esse método foi eficiente. 

Acredito que meu pai sabia muito bem os motivos pelos quais me impunha tal grau de exigência, pois gostando ou não do que fazia, eu sempre tive um temperamento muito inquieto. Queria terminar logo tudo o que começava. Ainda hoje, muitas vezes tenho dificuldade de deixar para amanhã aquilo que deve ser deixado para amanhã. Isso já me custou muitas frustrações e muito tempo e dinheiro desperdiçados. Para exemplificar, há pouco minha esposa, que está fazendo um curso de artesanato, chegou em casa com um lindo tampo de mesa de centro, com a pintura ainda fresca. Ela quase precisou me amarrar para impedir que eu o fixasse logo sobre a armação. Quero ver as coisas prontas e tenho dificuldade de sossegar enquanto isso não acontece. 

Entretanto, à parte dessa recaída momentânea, nos últimos tempos aprendi lições preciosas. Estamos fazendo aqui em casa, com calma, várias modificações. Restaurando algumas coisas, mudando outras de lugar; queremos enfim dar uma cara nova no ambiente, procurando também um melhor aproveitamento dos espaços.

É interessante que muitas vezes, num primeiro olhar, achamos que algo não cabe de jeito nenhum em determinado lugar. Mas depois, passados alguns dias, olhamos as coisas de um modo diferente e, aquilo já pensávamos em descartar, acaba encaixando perfeitamente e exatamente no lugar onde desejávamos. Talvez numa posição diferente, numa conjugação diferente, e que no entanto irá ficar mais bonito e funcional. A questão é que isso somente é possível quando não decretamos a impossibilidade ao primeiro olhar; quando conseguimos esperar por uma nova inspiração.  

Eu não partilho do conceito que o tempo resolve todas as coisas. O tempo é impessoal. O tempo em si nada faz. O tempo é estático. Nós só percebemos o tempo, não por que o tempo passa, mas por que nós passamos por ele.  Entretanto o tempo nos dá a chance de pensar melhor nas coisas, de avaliar com mais critério as circunstâncias nas quais estamos envolvidos. O tempo nos dá a chance de aquietar nossa impulsividade ou nos munir da determinação que ainda não temos para ações mais difíceis. O tempo nos dá a chance de discernir aspectos que à primeira vista quase sempre estão encobertos. O tempo não abre mais espaço numa casa, mas nos permite perceber melhor os espaços que já existem. O tempo não cura feridas, mas pode nos permitir que encontremos ali adiante o remédio que ainda não dispomos. O tempo não restaura relacionamentos, mas pode permitir que circunstâncias novas promovam uma reconciliação. O tempo não perdoa pecados, mas pode preparar o nosso coração para pedir ou liberar perdão. O tempo não faz o milagre, mas pode proporcionar o despertar da fé.  O tempo enfim, nada sendo em si, é essa grande bênção que dispomos para tentar outra vez.

Prezado leitor: Talvez você esteja pronto a desistir de algo que não deva desistir ou pronto a fazer algo que não deva fazer. Aquiete o seu coração, busque a Deus, clame por Sua direção, pois aquilo que está fora do tempo de Deus, também está fora da Sua vontade. Não ponha tudo a perder!  “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”. (Salmo 46.10)