Não quero penetrar aqui em argumentações teológicas a respeito da Trindade.   Contudo, o Novo Testamento é muito claro em relação ao fato que Pai, Filho e Espírito Santo, mesmo em papéis diferentes, agem sempre em absoluta harmonia com vistas à redenção do ser humano. E sendo aquilo que é, Deus deseja relacionar-se conosco num nível de revelação no qual possamos encontrá-lo, afinal, precisamos dEle, pois somente Ele sabe onde estão nossas feridas e somente Ele sabe como tratá-las. 

Por isso, ao buscar a cura para as nossas dores, precisamos compreender que nenhuma manipulação, nenhum artifício, nenhum jogo de palavras irá substituir um encontro verdadeiro com Deus. Assim, somente obteremos cura verdadeira quando despidos de toda falsidade, engano e hipocrisia, comparecemos diante de Deus exatamente como somos, na disposição de encontrá-Lo exatamente como Ele é. Seria loucura pensar que poderíamos subverter essa ordem e enganá-Lo.  

Esta semana eu e minha esposa conversávamos com uma pessoa que veio a nós extremamente fragilizada. Trazia em sua bagagem a experiência de muitas frustrações, especialmente por buscar cura nos lugares errados, envolvendo não somente experiências de ocultismo, mas também de igrejas, que talvez na ânsia de ajudar, acabam vendendo soluções mágicas.

Preciso dizer com todas as letras, que não são momentos de êxtase que conduzem o ser humano de volta para Deus, mas a aceitação pura e simples da verdade tal qual ela é: A verdade a respeito de Deus e a verdade a respeito de nós mesmos. Sem esse conhecimento concreto, racional, proposicional, extraído das Escrituras e da realidade, aquilo que se chama de fé pode não passar de mero misticismo.

Ao refletir sobre o que dizer a essa pessoa que aconselhávamos, me veio à mente algo com o qual convivi por muitos anos trabalhando no Judiciário: Os fatos.    Um processo somente pode ter uma solução justa quando os fatos vêem à tona.   A nossa cura, especialmente a cura da alma, somente é possível quando conseguimos lidar com nossos sentimentos e circunstâncias no nível da nua e crua realidade.

Diante de Deus, portanto, jamais haverá cura duradoura quando queremos sair pela tangente, quando queremos nos justificar, nos esconder ou quando queremos uma solução mágica. Nem mesmo o nosso coração aceita a mentira por muito tempo e, se tentamos reprimir certos sentimentos doentios ou negar que eles existem, um dia, de alguma forma, eles virão à tona, nem que seja à noite, enquanto dormimos. É por isso que a velhice pode ressuscitar tanto os sonhos quanto as dores mais antigas.  Aliás, esta é uma boa razão para buscarmos o quanto antes a cura das nossas emoções.

Mas então, como essa cura pode acontecer na prática? Todos nós sabemos que quando estamos doentes, tudo o que mais desejamos é um lugar privado onde possamos ficar com algumas pessoas especiais e repartir com elas o nosso fardo. Ninguém dispensaria a presença do Pai, do Amigo, do Médico. Ora, há muitas coisas importantes que devemos praticar para sermos reconhecidos como cristãos, porém quando estamos em sofrimento, é somente no lugar secreto da oração que encontraremos no Pai celestial a sombra confortadora da proteção que precisamos; no Espírito Santo, o amigo que diz: venha o que vier estarei contigo; e no Filho de Deus, o médico que carrega nas mãos um vaso transbordante de bálsamo restaurador.

Prezado leitor: Se no mais profundo de sua alma ainda há dores não curadas, feridas abertas, angústia, medo, pecado, desencanto, vá para o seu lugar secreto de oração e ali, abra sem medo o seu coração diante do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não importa quanto tempo você vem tentando deter essa represa. Diga absolutamente tudo a Deus. Ele virá ao seu encontro e, ao encontrá-Lo, renda-se a Ele, inteiramente, completamente, sem reservas porque é na medida da entrega que a sua cura virá.