Hoje, terça-feira, por volta das 20:30 horas, me encontrava diante do computador tentando escrever algo. Às vezes não é a inspiração que nos move, mas o senso de necessidade. Minha mente estava vazia e então eu orei pedindo a Deus que me desse uma direção. Abri a Bíblia no livro de Eclesiastes e saltou aos olhos o verso 2 do capítulo 7: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquele se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração”.  

Estava ainda alinhavando os primeiros pensamentos, quando minha sogra falou para a Simone que o Dimorvan Saraiva havia falecido. Agora, já quase 11:00 horas da noite, retornei do velório. Pude abraçar seu filho Evandro, depois a esposa Lígia e, quando ia dizer-lhe que perdi um amigo, ela antecipou-se: “Armando, morreu o teu amigo!”

Nossa amizade vinha de muitos anos. Não nos procurávamos, mas quando nos encontrávamos sempre fluía uma conversa animada e às vezes profunda. Houve uma época em que nosso convívio foi mais intenso, quando lá pelos idos da década de 1970, fazíamos parte do Coral de Câmera de Encantado. E que voz tinha o Saraiva!

Assim, estou literalmente retornando da “casa do luto”. Aliás, na semana que passou, perdi outro grande amigo, este em Gramado, o José Elias, que há trinta anos cuidava como um artista da jardinagem da missão Janz Team.  Lá eu fiz meu curso teológico completo e meus dois filhos homens o curso básico de um ano.  O Natanael, o segundo, estava agora completando seu estágio nos acampamentos de verão, quando mais ou menos neste mesmo horário ligou assustado, pois haviam encontrado o José já sem vida ali mesmo na missão, onde residia. Um infarto virou a penúltima página da sua vida.

Há pouco, quando Simone e eu saíamos de casa e eu avisei que estávamos indo para um velório, Ticiano, o mais velho, brincou comigo dizendo: “Pai, quando alguém vai mais a enterros que aniversários, é sinal que está ficando velho”. Sorri, respondendo que ele podia ter me poupado dessa lembrança.  Mas não é mais pura verdade? Lá, na “casa do luto”, encontrei outros amigos – graças a Deus ainda vivos, porém a maioria deles já começando a falar de suas doenças. 

Avanço então algumas páginas do mesmo livro de Eclesiastes e meus olhos param novamente no capítulo 12.1-7: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer; antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro; no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas; e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem; como também temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça; antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. 

Prezado leitor: Algum acontecimento, provavelmente imprevisto, irá virar a penúltima página da sua vida, mas eu quero levá-lo a refletir sobre a última página, pois o que se escreverá nela, é possível prever e prover:“E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que aguardam para a salvação” – Hebreus 9.27.